Quatro projetos marcantes de revistas nacionais

O post mais acessado deste blog é aquele sobre as revistas de eletrônica publicadas no Brasil. Ele está precisando de uma atualização e do terceiro vídeo, mas deve demorar mais um pouco. Interessante que este post já foi copiado e repassado Internet afora de várias maneiras. Até me xingaram em uma lista de discussão de videogames quando o post apareceu e eu falei que o autor era um "mané", pois o post era velho e estava incompleto.

Pois então, o post das revistas me mostrou que o povo adorava estas publicações (que sumiram das bancas e acho que não voltarão mais) e pensei em escrever algumas notas sobre os projetos que marcaram o meu inicio na eletrônica. Tentei pensar em pelo menos 5 artigos, mas só lembrei de 4. Espero que gostem.

4. Campo Minado
Divirta-se com a Eletrônica, número 8 (acho que é de 1982)
Autor: Bêda Marques

Um jogo eletrônico em um tabuleiro de 40 x 40 x 10 cm, com a montagem descrita em 10 páginas. O objetivo era levar uma peça de um lado para o outro do tabuleiro. Quem chegasse "vivo" do outro lado ganhava a partida, que poderia ser disputada por até 4 jogadores.

O circuito em si era bem simples, com apenas dois CIs (CD4017 e CD4011) no melhor estilo do prof. Bêda Marques. A cada nova partida as "minas" são realocadas para uma das cinco combinações possíveis. Depois de um tempo jogando dava pra decorar os caminhos.

Já o tabuleiro demandava uma boa dose de habilidade em marcenaria. Eu nem cheguei a tentar montar um, embora a vontade fosse grande. Cheguei a ver e a jogar em um que foi montado por alunos da escola da técnica aqui da cidade, para a feira anual. Já um colega meu tentou fazer uma versão reduzida com um caminho de 9 quadrados. Era um pouquinho perigosa pois era ligada diretamente na tomada e usava uma lâmpada como indicador. Ao invés dos alfinetes do projeto da revista ele usou fio desencapado. Tomei alguns choques neste "brinquedo". Fora esses dois já ouvi várias pessoas dizendo que também montou ou que conheceu alguém que montou.

Taí um projetinho que eu ainda vou montar, talvez com uma eletrônica diferente e mais moderna. Algum dia, claro...


3. Scorpion (Transmissor de FM)
Saber Eletrônica, número 84 (inicio da década de 80)
Autor: Newton C. Braga

fiz um post sobre ele e praticamente todo mundo que gosta de eletrônica no Brasil conhece o circuito, que com uma ou outra modificação aparecia em 9 de cada 10 edições da Saber Eletrônica (nos bons tempos). Acho que todo mundo da minha turma do curso técnico montou um. Depois de piscar um LED é obrigatório montar um transmissor de FM (e um amplificador de áudio).

O da revista parece que saiu antes do kit da Superkit. Nunca vi esta edição então não tenho mais detalhes. O que eu tinha era o da Superkit mesmo, que ganhei da Séfora. As fotos dele podem ser vistas no link aí em cima.

Não era lá grande coisa, mas fez um sucesso enorme. O alcance dependia muito da tensão de alimentação. Um colega montou um que tinha o maior alcance que eu já vi, devendo chegar a uns 100 metros mais ou menos (numa pracinha que tinha uma quadra aberta). Deve ter sido algo no layout da placa de circuito impresso que ele bolou.

Outro problema era a sensibilidade do microfone. Sem um pré amplificador de áudio você tinha que praticamente falar com o microfone dentro da boca. Mas era divertido...

2. Nestor
Nova Eletrônica, número 84 (Feveriro de 1984)
Autores: José Rubens Palma e Mário Sérgio da Silva

"... uma das montagens mais ambiciosas já vistas no Brasil:", assim dizia o editorial desta edição. O projeto foi dividido em três edições da revista e era um pequeno computador básico com microprocessador Z80. Tinha 2kB de EPROM e 1kB de RAM. A programação era feita em um teclado de 24 teclas e para indicação usava um display de LEDs de 6 dígitos.

Namorei este circuito na biblioteca do curso técnico por muito tempo. Mas era demais pra mim e tive que me contentar em brincar com o Z80 e uma EPROM nas aulas de eletrônica digital.

Só vi um Nestor montado em protoboard, com alguns problemas no teclado. Não sei se conseguiram fazer funcionar 100%. Este é um daqueles projetos que até dá vontade de montar, mas que passa logo (a vontade). Não sei qual a utilidade de um computador destes nos dias de hoje.

1. Pinelcicle: Uma Estação de Amador movida a pedal!
Eletrônica Popular - Volume 46 - número 3 (Maio/Junho de 1979)
Autor: Miécio Ribeiro de Araújo, o Capyau - PY1ESD

Este eu só fui ler este ano, após muito tempo de procura. Como eu disse no post das revistas, só fui conhecer a "Eletrônica Popular" em 2008 quando comprei algumas edições num sebo. E foi lendo estas edições que descobri os artigos do Miécio Capyau e resolvi procurar seus outros artigos e mais informações sobre ele. Algo que me deixou curioso era o artigo do Pinelcicle, cuja foto aparecia na capa da revista (foto ao lado) e em seu cartão QSL.

Claro que eu não queria montar o projeto, já que não sou radioamador. O que me interessava era apenas ler o artigo. A forma de escrever do Miécio era única, uma verdadeira aula de como escrever bem. E se isso já não bastasse ele ainda desenhava os esquemas e toda a parte mecânica nos mínimos detalhes. E completava com fotos e mais desenhos (humorísticos).

Pois então, finalmente em Maio deste ano botei as mãos na edição do Pinelcicle. E valeu a espera: são 22 páginas, 18 fotos e 11 desenhos (sem contar os esquemas). Tudo isso para contar a história do seu projeto de uma estação de radiomador movida a feijão. Imperdível!

11 comentários:

  1. Muito legal o post.

    Realmente algumas montagens me marcaram e estão na minha memória até hoje, como o frequencímetro digital da NE, o multímetro digital feito com CIs discretos publicado no final dos anos 70 ou início dos anos 80 na Antenna (ou Eletrônica Popular, não lembro ao certo) e o monitor de computador monocromático, um projeto da Philips em parceria com a Saber Eletrônica no início dos anos 90.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Newton, sobre o multímetro dei uma pesquisada e não foi na Eletrônica Popular. Deve ter sido na Antenna mesmo.

      Excluir
  2. Pakéquis, a primeira versão do Scorpion saiu na Revista Saber em agosto/setembro de 1979,a bobina nem era feita de fio mas sim no próprio circuito impresso da placa, tenho o que sobrou da revista que pegou água e mofou, mas as páginas do projeto ficaram intactos.

    ResponderExcluir
  3. Meu nome é Flavio e sou radio amador desde 1976.
    Tive a oportunidade de montar o Pinelcicle e descobrí um pequeno defeito de edição que se localiza no circuito do vfo onde o capacitor de acoplamento do mesmo foi desenhado de forma errada sem isolar o fet da massa. corrijam então quem comprar a revista e quizer montar esse projetinho do Capyau. Funciona muito bem,depois da correção.
    Qualquer dúvida,me deêm um alô!
    Abraços !
    flaviopolyvox@gmail.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Incrível saber que alguém, de fato, decidiu construir a Pinelcicle! Sou neto do Miécio, "o Capyau", e tive o privilégio de acompanhar parte da construção original... Particularmente a adaptação do motor de geração de energia, que originalmente era destinado a prover energia para estações móveis na época da II Guerra. Ele era acionado com as mãos, então.

      Um abraço!

      Excluir
  4. Este projeto do Nestor... Quebre a cabeça com ele, é algo mais didático do que funcional, mas ultimamente, estou estudando o SAP-1, bem mais simples e serve para aprender também, se tudo der certo, quero ver se monto um SAP. O circuito do Nestor, achei este site bem interessante... http://eletronicaxprojetos.blogspot.com.br/2015/02/nestor-2-faltava-eu-colocar-mais.html

    ResponderExcluir
  5. Ahhh esses periódicos de eletrônica, fascinaram a tantos aficionados por eletrônica, profissionais e hobistas. Ainda guardo várias delas, incluindo duas Eletrônica Pratica da Graffiti Cultural, que tinha muitos circuitos bastante avançados. A Saber e a Nova Eletrônica também publicaram vários projetos bastante avançados e desafiadores para os iniciantes. Bons tempos!

    ResponderExcluir
  6. Oi pessoal da RadioEmissão,
    Falando de Miécio, quando fiquei sabendo da estação QRP movida a feijão,
    tratei de comprar a revista em edição antiga na loja da rua Aurora (SP);
    Ele não menciona mas parece que o gerador manual é do tempo da II guerra
    o gn-58 generator usado para os transceptores daquela época. Era usado
    porque na época as baterias eram muito pesadas e, para transformar 6v em
    300 (tensão de placa) a coisa ficava complicada (e pesada); era mais facil
    achar um soldado "bom de braço" para operar o indispensavel radio de
    comunicação..
    Abraço a todos...

    ResponderExcluir
  7. PINELCICLE - Lembro bem desse artigo. Acompanhei "ao vivo" na época! Lá se vão 40 anos. O Miécio era único. Esperavamos com ansiedade a chegada da revista na banca de jornal. Bons tempos!

    ResponderExcluir

  8. Quando eu era pequeno, bem pequeno, tipo 4 ou 5 anos de idade, eu ja andava com revista de eletronica debaixo do braço
    (!!!!!!!!)
    E eu morava em um prediozinho simples, que eram 2 apartamentos por andar. Os vizinhos de frente eram uma familia bem numerosa (marido, mulher, 3 filhas, 2 filhos, um ap de 2 quartos)
    Os dois moleques eram bem mais velhos qu eu, tipo - sei la - 12, 14 anos, E viram a revista do campo minado
    Os moleques se viraram nos30, fizeram o campo minado em caixa de papelao, usando alfinete pras ilhas, botao de camisa com papel aluminio colado...ficou FANTASTICO
    um deles trabalha com eletronica ate hoje

    ResponderExcluir
  9. Tive a oportunidade de conhecer o Miecio na década de 80. Um gênio. Morava em um sítio próximo aqui de Nova Friburgo. Conheci a sua viúva e filhos. Pessoas maravilhosas.

    ResponderExcluir

1. Alguns comentários são moderados automaticamente. Caso isso ocorra pode levar algum tempo até que eu veja e o libere.
2. Comentários fora do assunto do post podem ser apagados.
3. Não, eu não posso consertar os seus aparelhos!