Durante minha visita (quase) semanal ao ferro-velho, enquanto fuçava num tambor cheio de fontes chaveadas, encontrei este pobre coitado jogado num canto entre a parede e o tambor:
Como se pode ver o equipamento não estava lá em muito bom estado. O medidor foi quase completamente destruído, sobrando apenas uma pequena parte da traseira com os parafusos de conexão. O dial de acrílico ficou só com um pouco mais da metade. Vários knobs faltando e os que sobraram não serviriam pra muita coisa:
Normalmente eu não levo equipamentos neste estado pra casa, mas como ele é valvulado pensei que seria bom pra tentar aproveitar algumas coisa. Equipamentos valvulados estão cada vez mais raros de se ver e como já deixei passar muita coisa antes, pensei que seria melhor prevenir o arrependimento.
Chegando em casa dei uma pesquisada rápida e encontrei até o manual do aparelho com os esquemas. Ele é um "Portable TV Tester" modelo TR-0809, fabricado na Hungria pela Hiradástechnika Szövetkezet (HTSZ). É basicamente um gerador de RF (5.2 a 230 MHz em 6 faixas) e um VTVM (voltimetro eletrônico) em um único equipamento.
Olhando a parte de trás dá pra ver que alguém tentou usar um pouco de força bruta para separar as partes:
Como o chassi é todo de aluminio parece que o objetivo era quebrar tudo pra separar o metal mais caro. Nota-se também a ausência do transformador de alimentação, que é algo que já me acostumei. O trafo é uma das primeiras coisas que o pessoal da reciclagem procura retirar, por causa do cobre.
Não se deram nem ao trabalho de retirar as válvulas durante o processo, inclusive uma delas já havia perdido grade parte do vidro:
Tive que retira-la com todo cuidado pra não me cortar:
A parte do oscilador do gerador de RF fica num "cofre" de alumínio fundido com algumas engrenagens ligadas mecânicamente aos controles no painel:
O curioso destas engrenagens é que pensei que elas serviriam como redução para o capacitor variável de ajuste de frequência. Abrindo o "cofre" vi que na verdade elas estão ligadas a chave de seleção de escala de frequências (chave de onda, como se dizia antigamente) que chaveia as bobinas do circuito tanque. O capacitor variável é feito com três peças e deve ter dado trabalho para o montador alinhar ele direitinho e não causar um curto entre as partes:
A montagem disso aí realmente não parece fácil. É bem apertado aí dentro:
O tubo preto ali fora é uma caneca com uma válvula dentro (o "cofre" tem duas válvulas).
Como dá pra ver não é possível (para uma pessoa normal) restaurar o aparelho. Comprei para tentar reaproveitar alguma coisa. Tentei retirar o máximo de componentes possíveis (seguindo as minhas regras de aproveitamento):
- Num equipamento tão antigo geralmente não dá pra reaproveitr os capacitores eletrolíticos, pois já devem estar "secos". Deixei eles como estavam...
- Guardei as válvulas, embora não tenha como testar no momento. No pior caso elas viram enfeites na estante.
- Retirei os soquetes das válvulas. Por algum motivo obscuro soquetes de válvulas custam muito caro, até no Ebay.
- O VTVM tinha um divisor resistivo com resistores de 0.5% de tolerância. Testei pra ver e parecem estar dentro da faixa. Se depois de tanto tempo eles estão assim é por que são de ótima qualidade. Já até pensei num projetinho pra eles.
- Resistores de potência eu salvei os que não estavam quebrados e mais alguns capacitorzinhos. Muitos não resistiram as pancadas.
- Ele tinha várias bobinas com fio litz. Guardei mais por causa do fio, os núcleos de ferrite estavam quebrados.
- Partes mecânicas (eixos, parafusos, etc).
- Diodos de germânio. Acho que tirei uns quatro.
Depois de retirado os componentes que me interessavam guardei o resto do chassi para entregar ao carroceiro que recolhe material reciclável. Ele vai ficar feliz com as peças de alumínio.
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3. Não, eu não posso consertar os seus aparelhos!